Durante muito tempo, essa resposta se baseou em intuições ou percepções vagas. Profissionais do turismo analisavam o comportamento do público com base em tendências, mas sem apoio metodológico capaz de orientar decisões de forma sistemática e aplicável. Isso começou a mudar com a criação da Escala de Motivação Turística (EMT), proposta pelos pesquisadores Marcelo da Silva Schuster e Valéria da Veiga Dias e publicada na revista Turismo: Visão & Ação.
Fruto de uma pesquisa com quase mil participantes, a EMT identifica três grandes fatores que impulsionam as viagens no Brasil. O primeiro é o lazer — o desejo de explorar novos ambientes e vivenciar experiências prazerosas. O segundo é a motivação cultural, que inclui o interesse por tradições, história e contato com a identidade local. Por fim, há a fuga da rotina, relacionada à busca por tranquilidade, descanso e alívio do estresse.
Essas três dimensões permitem uma leitura mais precisa do perfil do viajante brasileiro. Para destinos turísticos, operadores e gestores, a EMT representa um avanço estratégico. Deixa-se de lado o improviso e as campanhas genéricas, abrindo espaço para ações alinhadas ao que o público realmente busca.
Um destino histórico que identifica na cultura sua principal força de atração pode estruturar roteiros educativos, investir em museus e formar parcerias com guias especializados. Já regiões litorâneas que recebem um público em busca de bem-estar podem adaptar sua oferta com foco em hospedagens silenciosas, atividades de relaxamento e experiências de reconexão pessoal.
A EMT também se apresenta como um instrumento valioso para o setor público. Quando aplicada em municípios ou regiões, ajuda a diagnosticar percepções, identificar gargalos e orientar investimentos de maneira mais assertiva. Em um país com a diversidade geográfica e cultural do Brasil, ferramentas como essa oferecem suporte técnico para o desenvolvimento de políticas públicas com base real e atualizada.
O turismo contemporâneo exige mais do que infraestrutura. O viajante atual busca autenticidade, pertencimento e experiências com significado. Para que destinos respondam a essas expectativas, é necessário entender com clareza o que motiva cada visita.
A Escala de Motivação Turística surge como um recurso útil para que o setor avance com estratégia. Permite a criação de produtos ajustados ao perfil do turista, campanhas mais eficazes e experiências que aumentem a satisfação e o desejo de retorno.
Compreender o que move o turista brasileiro é o ponto de partida para encantá-lo — e a EMT oferece o caminho para que esse encantamento aconteça de forma planejada, sustentável e conectada com a realidade de cada destino.
Por Fabiano Vidal - Turismólogo, Jornalista de Turismo, Especialista em Marketing e Publicidade, Doutor em Ciência da Informação e ex-presidente da ABRAJET-PB (2020-2022)