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Crescimento do setor turístico exige planejamento para evitar impactos negativos vividos por destinos internacionais / Imagem gerada por IA. |
Quando o turismo perde o equilíbrio
Para quem enxerga o turismo apenas como gerador de renda e oportunidades de trabalho, esse tipo de reação pode parecer exagerado ou contraditório. No entanto, é preciso considerar que o turismo, quando conduzido sem planejamento adequado, pode causar sérios danos aos destinos — sejam eles pequenas cidades do interior nordestino ou grandes centros como Barcelona.
Durante décadas, o turismo foi romantizado como uma “indústria sem chaminés”. Mas essa metáfora ignora a complexidade da atividade, que, embora traga benefícios como geração de empregos, aumento da arrecadação de impostos e melhorias na infraestrutura, também pode causar impactos sociais, ambientais e culturais relevantes.
Um dos principais desafios enfrentados atualmente é o chamado overtourism — ou turismo excessivo — que ocorre quando o número de visitantes ultrapassa a capacidade do local. Os efeitos são diversos: destruição de patrimônio, especulação imobiliária, poluição, congestionamentos e gentrificação. Este último é um processo em que bairros tradicionalmente populares passam por valorização imobiliária intensa, elevando aluguéis e expulsando moradores antigos para regiões periféricas, muitas vezes sem infraestrutura adequada.
Cresce o sentimento anti-turismo na Europa
Diante desses efeitos colaterais, cresce na Europa o sentimento anti-turismo. A preocupação chegou a tal ponto que a Organização Mundial do Turismo (OMT) vem promovendo debates sobre estratégias para evitar que o turismo comprometa a qualidade de vida das populações locais. O desafio está em manter os benefícios econômicos do setor — que movimenta bilhões de dólares anualmente — sem ignorar os seus riscos.
O cenário da Paraíba e o alerta necessário
Na contramão dessa realidade, a Paraíba vive hoje o melhor momento de sua história no setor turístico. Antes considerada o “patinho feio” do turismo nordestino, o estado agora registra crescimento expressivo da atividade. Como turismólogo, acompanhei essa evolução de perto e ouvi, em diversas ocasiões, que o atraso no desenvolvimento turístico local permitiu à Paraíba observar os erros cometidos por estados vizinhos, evitando repeti-los.
Diante disso, é essencial que o estado acompanhe atentamente os debates internacionais e reflita sobre o modelo de turismo que deseja construir. Mais do que atrair visitantes, é preciso garantir que o turismo seja planejado com responsabilidade social, ambiental e urbana.
O que fazer?
É essencial que o trade turístico paraibano proponha audiências públicas na Assembleia Legislativa, nas Câmaras Municipais dos municípios que integram o Mapa do Turismo, e nos Conselhos Municipais de Turismo. É nessas instâncias que deve se discutir que tipo de turismo queremos para a Paraíba.
A atividade turística pode — e deve — ser um vetor de desenvolvimento econômico e de melhoria da qualidade de vida. Mas para isso, é necessário planejamento, gestão participativa e responsabilidade com o presente e o futuro dos nossos destinos.