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Marrocos / Foto de Babix Visuals / Pexels |
Empresas como Secrets of Fes, liderada por uma cidadã britânica, oferecem roteiros exclusivos por locais religiosos e históricos em Fez, apresentados com linguagem poética e imagens estilizadas. Embora pareça uma iniciativa de intercâmbio cultural, investigações revelam que essas atividades muitas vezes ocorrem fora do quadro legal marroquino, ignorando exigências como a contratação de guias certificados e o pagamento de impostos.
Além disso, os benefícios financeiros raramente chegam às comunidades locais. Enquanto os pacotes turísticos podem gerar dezenas de milhares de dólares anuais, o retorno para moradores ou responsáveis por locais sagrados, como zawiya (locais de prática sufista), é mínimo ou inexistente. Em alguns casos, narrativas promovidas por essas empresas contêm distorções sobre práticas islâmicas e a história marroquina, contribuindo para uma visão romantizada e imprecisa da cultura local.
Outra empresa, Revival Retreats, também tem sido apontada por cobrar valores altos por retiros espirituais de uma semana, atraindo grupos internacionais, mas operando sem autorização formal junto ao Ministério do Turismo de Marrocos. As visitas, frequentemente não reguladas, sobrecarregam locais já fragilizados pela falta de recursos, sem qualquer compensação para quem cuida desses espaços.
Especialistas alertam que essa tendência pode configurar uma forma de "extração espiritual", na qual elementos culturais e religiosos são transformados em produtos comerciais sem reconhecimento ou respeito pelas tradições reais. O debate envolve questões mais amplas, como neocolonialismo cultural e a necessidade de políticas públicas que protejam o patrimônio imaterial do país.
Autoridades marroquinas e especialistas defendem que há urgência em criar mecanismos legais para regular o turismo espiritual. Sugestões incluem obrigatoriedade de registro governamental, contratação de profissionais locais e garantia de compensação financeira às comunidades receptoras. A ideia é equilibrar o diálogo intercultural com justiça socioeconômica, evitando que heranças centenárias sejam reduzidas a cenários de consumo global.
Redação