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Olinda / Foto de Edeson Souza / Pexels |
O resultado é comemorado pelo Ministério do Turismo e pela Embratur, que destacam os esforços conjuntos em promoção internacional, capacitação profissional, melhoria da infraestrutura e ampliação da malha aérea. A Argentina lidera o ranking de países emissores com mais de 2,3 milhões de visitantes, seguida por Chile e Estados Unidos.
Apesar do avanço expressivo, especialistas reunidos no Conselho de Turismo da Fecomércio-SP alertam para o risco de interpretações precipitadas. Para a professora Mariana Aldrigui, da Universidade de São Paulo, o aumento é fortemente influenciado por fatores conjunturais, como o câmbio favorável para argentinos. Ela lembra que muitos turistas desse país vieram ao Brasil não por lazer, mas para compras, troca de moeda ou visita a familiares. “Se a economia argentina se estabilizar, esse fluxo pode diminuir rapidamente”, avaliou.
Outro dado questionado foi o salto de 1.150% nas entradas de venezuelanos no primeiro quadrimestre de 2025, passando de 4,4 mil para 55 mil visitantes. A ausência de pacotes turísticos organizados ou eventos direcionados, somada à queda de 27% na conectividade aérea entre os dois países, torna o dado suspeito.
Além disso, a retomada da exigência de vistos para turistas de mercados estratégicos como Estados Unidos, Canadá e Austrália já apresenta reflexos negativos. Só em abril, a queda no número de visitantes desses três países foi, em média, de 6%, mesmo com a regra entrando em vigor no dia 10. Segundo o presidente do Conselho da Fecomércio-SP, Guilherme Dietze, essa exigência burocrática pode comprometer o fluxo de um público com alto poder de consumo.
Outro ponto de preocupação é a ausência de pesquisas atualizadas sobre o perfil e os hábitos dos turistas internacionais que visitam o Brasil. Desde 2012, não há levantamentos estruturados conduzidos pelo Ministério do Turismo. “Não é possível planejar o futuro do turismo com base em dados de mais de uma década atrás, ignorando as transformações provocadas pela pandemia e pelas mudanças tecnológicas”, alertou Mariana.
A projeção de 8 milhões de visitantes até o fim de 2025, embora possível, é vista com reservas pelos analistas. Eles defendem que os dados devem ser analisados com base em critérios técnicos, e não apenas como estímulo político ou publicitário. “Celebrar recordes é válido, mas sem uma estratégia consolidada e informações confiáveis, o setor corre o risco de investir mal e perder oportunidades futuras”, concluiu Dietze.
Redação