Brasil bate recorde de turistas estrangeiros, mas especialistas pedem cautela diante de cenário conjuntural

Olinda / Foto de Edeson Souza / Pexels

O primeiro semestre de 2025 marcou um desempenho histórico para o turismo internacional no Brasil. Entre janeiro e junho, o país recebeu 5.332.111 turistas estrangeiros, um aumento de 48,2% em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo dados da Polícia Federal. É o melhor resultado já registrado para um primeiro semestre e representa 77,3% da meta anual prevista pelo Plano Nacional de Turismo 2024-2027, que projeta 6,9 milhões de visitantes em 2025. Se mantido o atual ritmo de crescimento, o Brasil pode ultrapassar ainda este ano a meta de 8,1 milhões de turistas originalmente estabelecida para 2027.

O resultado é comemorado pelo Ministério do Turismo e pela Embratur, que destacam os esforços conjuntos em promoção internacional, capacitação profissional, melhoria da infraestrutura e ampliação da malha aérea. A Argentina lidera o ranking de países emissores com mais de 2,3 milhões de visitantes, seguida por Chile e Estados Unidos.

Apesar do avanço expressivo, especialistas reunidos no Conselho de Turismo da Fecomércio-SP alertam para o risco de interpretações precipitadas. Para a professora Mariana Aldrigui, da Universidade de São Paulo, o aumento é fortemente influenciado por fatores conjunturais, como o câmbio favorável para argentinos. Ela lembra que muitos turistas desse país vieram ao Brasil não por lazer, mas para compras, troca de moeda ou visita a familiares. “Se a economia argentina se estabilizar, esse fluxo pode diminuir rapidamente”, avaliou.

Outro dado questionado foi o salto de 1.150% nas entradas de venezuelanos no primeiro quadrimestre de 2025, passando de 4,4 mil para 55 mil visitantes. A ausência de pacotes turísticos organizados ou eventos direcionados, somada à queda de 27% na conectividade aérea entre os dois países, torna o dado suspeito.

Além disso, a retomada da exigência de vistos para turistas de mercados estratégicos como Estados Unidos, Canadá e Austrália já apresenta reflexos negativos. Só em abril, a queda no número de visitantes desses três países foi, em média, de 6%, mesmo com a regra entrando em vigor no dia 10. Segundo o presidente do Conselho da Fecomércio-SP, Guilherme Dietze, essa exigência burocrática pode comprometer o fluxo de um público com alto poder de consumo.

Outro ponto de preocupação é a ausência de pesquisas atualizadas sobre o perfil e os hábitos dos turistas internacionais que visitam o Brasil. Desde 2012, não há levantamentos estruturados conduzidos pelo Ministério do Turismo. “Não é possível planejar o futuro do turismo com base em dados de mais de uma década atrás, ignorando as transformações provocadas pela pandemia e pelas mudanças tecnológicas”, alertou Mariana.

A projeção de 8 milhões de visitantes até o fim de 2025, embora possível, é vista com reservas pelos analistas. Eles defendem que os dados devem ser analisados com base em critérios técnicos, e não apenas como estímulo político ou publicitário. “Celebrar recordes é válido, mas sem uma estratégia consolidada e informações confiáveis, o setor corre o risco de investir mal e perder oportunidades futuras”, concluiu Dietze.

Redação

Fabiano Vidal

Técnico em Turismo, Turismólogo, Jornalista, Especialista em Marketing e Publicidade, autor do livro "Do Tambaú ao Garden - A História Moderna do Turismo da Paraíba", agraciado com Voto de Aplausos e a Medalha de Mérito Turístico 2008, ambos concedidos pela Assembléia Legislativa da Paraíba.

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