Debates sobre inclusão, acessibilidade e inteligência artificial marcam segundo dia do WTM London 2025

WTM Londres debateu inclusão, acessibilidade e uso da IA no Turismo / Foto: WTM / Divulgação

O segundo dia do World Travel Market London 2025 evidenciou tensões crescentes entre avanços em diversidade turística e resistências político-sociais que ameaçam consolidar retrocessos no setor. As sessões do DEAI Summit revelaram um panorama complexo onde destinos e operadores enfrentam demandas crescentes por inclusão e pressões contrárias a essas iniciativas. A discussão transcendeu aspectos comerciais, abordando impactos diretos de políticas governamentais na competitividade turística internacional e na percepção de segurança entre segmentos específicos de viajantes.

A análise do mercado LGBTQ+ apresentou dados preocupantes sobre o impacto de mudanças políticas na atratividade turística. Edgar Weggelaar, consultor especializado em turismo LGBTQ+ da Queer Destinations, correlacionou o aumento de 15% em ataques homofóbicos registrados pelo FBI com políticas anti-DEAI (Diversidade, Equidade, Acessibilidade e Inclusão) da administração Trump, alertando para consequências econômicas diretas. "Viajamos para lugares onde nos sentimos confortáveis e desejados", explicou, destacando que a percepção de hostilidade pode redirecionar fluxos turísticos para destinos mais acolhedores. Joanna Reeve, da Intrepid Travel, reconheceu o "retrocesso desafiador" mas defendeu o papel transformador das viagens na redução de preconceitos através do contato intercultural. A discussão revelou necessidade urgente de estratégias de longo prazo que superem ações pontuais como campanhas do "Mês do Orgulho".

O segmento de turismo acessível emergiu como oportunidade de mercado subutilizada, com potencial econômico significativo sendo desperdiçado por falta de informações adequadas. Richard Thompson, do Inclu Group, apresentou pesquisa reveladora com 600 hotéis de luxo globais, onde detalhes sobre "menus de travesseiros e facilidades para cães" superam informações sobre acessibilidade. A análise expôs uma contradição fundamental: enquanto o setor investe em amenidades supérfluas, negligencia um mercado que representa 15% da população global. "Transformamos pessoas com deficiência em apostadores de férias de alto valor", criticou Thompson, referindo-se aos riscos financeiros assumidos por viajantes que investem milhares de libras sem garantias de acessibilidade. Sadia Ramzan, especialista em turismo muçulmano, demonstrou como adaptações simples - substituir brindes de vinho espumante por mocktails - podem gerar recomendações orgânicas valiosas, evidenciando retorno sobre investimento em inclusão.

A integração de inteligência artificial no turismo dividiu especialistas entre oportunidades de personalização e riscos de homogeneização da experiência turística. Colin Carter, analista da Weather2Travel, alertou que algoritmos não substituem "pesquisa jornalística fundamentada e experiência local", destacando preocupações ambientais sobre o consumo energético da IA. A empresa está adaptando conteúdo para otimização em buscas orientadas por IA, ilustrando a pressão competitiva do setor. Stephen Joyce, do Protect Group, argumentou que curadoria algorítmica elimina "o caos humano mágico das descobertas espontâneas", elemento central da experiência turística autêntica. A votação final favoreceu amplamente a tecnologia, refletindo, segundo Christian Watts da Magpie, expectativas futuras sobre capacidades da IA em detrimento das limitações atuais. O resultado sugere aceitação crescente da automação no planejamento de viagens, apesar de resistências conceituais sobre autenticidade experiencial.

Fabiano Vidal

Técnico em Turismo, Turismólogo, Jornalista, Especialista em Marketing e Publicidade, autor do livro "Do Tambaú ao Garden - A História Moderna do Turismo da Paraíba", agraciado com Voto de Aplausos e a Medalha de Mérito Turístico 2008, ambos concedidos pela Assembléia Legislativa da Paraíba.

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