Presidente do México condena protesto contra turismo de massa e reacende debate sobre gentrificação

Montagem de uma imagem de Claudia Sheinbaum com as cores da bandeira do México. Foto de Wikimedia Commons sob licença CC BY 2.0

A recente manifestação ocorrida em Cidade do México contra o turismo de massa e a gentrificação reacendeu um debate nacional sobre os impactos das políticas públicas voltadas à atração de estrangeiros e os crescentes custos habitacionais nos bairros centrais da capital. O protesto, que ocorreu na sexta-feira (5), reuniu centenas de pessoas em uma marcha pelos corredores turísticos da cidade com cartazes que exigiam regulação do mercado imobiliário e responsabilizavam estrangeiros pelo aumento do custo de vida.

Apesar de sua maioria pacífica, o protesto terminou com atos de vandalismo, como depredação de vitrines e pichações de teor xenofóbico. Uma delas dizia “mate um gringo”, o que levou a presidente do México, Claudia Sheinbaum, a se manifestar publicamente sobre o ocorrido. Em declaração, Sheinbaum afirmou: “As demonstrações xenofóbicas vistas nesse protesto precisam ser condenadas. Ninguém tem o direito de dizer que uma nacionalidade deve sair do país, mesmo diante de um problema legítimo como a gentrificação. Sempre fomos um povo aberto e fraterno.”

A manifestação foi impulsionada, segundo especialistas, por anos de omissão do poder público diante da crise habitacional que se acentuou com a entrada de milhares de estrangeiros a partir de 2020 — muitos deles nômades digitais atraídos por acordos firmados pela própria ex-prefeita Sheinbaum com plataformas como o Airbnb e com a UNESCO para impulsionar o turismo.

Segundo o pesquisador Luis Salinas, da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), a explosão de protestos decorre da ausência de fiscalização efetiva: “O governo tratou a habitação como mercadoria, priorizando o capital estrangeiro em detrimento do direito à moradia dos mexicanos.” Hoje, há mais de 26 mil imóveis disponíveis no Airbnb na capital mexicana, número que supera cidades como Barcelona, onde manifestações semelhantes já ocorreram.

A Frente Antigentrificação da Cidade do México, uma das organizadoras do protesto, negou que o movimento tenha caráter xenofóbico e apontou falhas históricas do governo em conter o avanço desregulado do turismo. Entre suas reivindicações estão controles rigorosos de aluguel, prioridade a moradores locais em projetos de habitação e maior participação da população nas decisões urbanas.

Apesar de uma nova lei de controle de aluguel aprovada recentemente e do limite de 180 dias por ano para aluguéis temporários, analistas afirmam que a aplicação das medidas foi adiada até depois da Copa do Mundo de 2026, o que deve manter o clima de tensão nos bairros mais afetados.

Redação

Fabiano Vidal

Técnico em Turismo, Turismólogo, Jornalista, Especialista em Marketing e Publicidade, autor do livro "Do Tambaú ao Garden - A História Moderna do Turismo da Paraíba", agraciado com Voto de Aplausos e a Medalha de Mérito Turístico 2008, ambos concedidos pela Assembléia Legislativa da Paraíba.

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