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Imagem gerada por IA. |
Na Itália, o caso do Coliseu chamou atenção mundial. A autoridade antitruste do país multou a CoopCulture e seis operadoras turísticas em 20 milhões de euros por práticas consideradas abusivas, como a retenção de ingressos por meio de robôs e a priorização de pacotes educativos com altos lucros. Segundo a AGCM (Autorità Garante della Concorrenza e del Mercato), essas práticas limitaram o acesso do público geral e elevaram os preços, forçando consumidores a recorrerem a canais alternativos com valores inflacionados.
Na França, o Museu do Louvre enfrenta desafios semelhantes. Com mais de 8,7 milhões de visitantes por ano — mais que o dobro de sua capacidade planejada —, a instituição precisou lidar com protestos de funcionários por condições de trabalho insustentáveis. Como resposta, o governo francês anunciou investimentos entre 730 milhões e 834 milhões de euros para reforma e readequação do espaço, incluindo a criação de uma sala separada para a Mona Lisa. Enquanto isso, o museu passará a cobrar mais caro de turistas de fora da União Europeia, medida que levanta questões éticas sobre a acessibilidade a bens culturais.
Nos Estados Unidos, soluções tecnológicas já vêm sendo adotadas. O Zoo New England, em Boston, implementou a precificação dinâmica por meio da empresa Digonex, ajustando os preços de ingressos de acordo com a demanda em tempo real. Para Johannes Reck, cofundador da plataforma GetYourGuide, esse modelo, ainda pouco explorado no setor, pode ser uma ferramenta eficaz para distribuir o fluxo de visitantes de forma mais uniforme ao longo do tempo.
A GetYourGuide também promove ações de equilíbrio entre turismo e qualidade de vida urbana. Em Barcelona, lançou em parceria com a prefeitura local o “Observatory”, projeto voltado ao monitoramento dos impactos do turismo em áreas centrais, como La Rambla. Em Florença, a empresa retirou de sua plataforma os passeios alcoólicos em comum acordo com autoridades locais, visando preservar a convivência entre turistas e residentes.
Para Enrique Espinel, diretor de operações da Civitatis, a descentralização das visitas e a promoção do turismo fora das altas temporadas são essenciais para enfrentar a superlotação. Ele defende uma distribuição mais justa dos ingressos, com apoio a pequenos operadores locais e incentivo a destinos menos conhecidos. Segundo Espinel, plataformas digitais e ferramentas analíticas podem ajudar na gestão de dados e na tomada de decisões, promovendo um turismo mais equilibrado.
Doug Lansky, especialista em destinos, sugere a adoção de modelos inspirados em parques temáticos, com passes escalonados vinculados a pacotes de hospedagem de maior valor. Esses recursos, segundo ele, poderiam financiar o acesso de estudantes, idosos e residentes de baixa renda. Para Lansky, proteger a experiência turística passa também por reconhecer que o excesso — inclusive de turistas — pode ser prejudicial.
O debate atual revela que garantir o acesso a patrimônios culturais, preservar a qualidade das visitas e respeitar os territórios locais exige mais do que estratégias de marketing: requer políticas públicas bem estruturadas, atuação ética das empresas e escolhas conscientes dos próprios viajantes.