IA no turismo: 44% dos agentes temem perda de emprego, mas adoção avança e divide regiões

Imagem gerada por IA.

Uma pesquisa global da RateHawk, divulgada no Dia Mundial do Turismo, mostra um cenário ambivalente sobre o uso de IA no turismo. Quase metade dos profissionais (44%) enxerga a tecnologia como ameaça, receosa de que substitua o elemento humano considerado essencial na criação de viagens personalizadas. Ao mesmo tempo, o setor acelera a adoção de ferramentas de IA, com projeções de que plataformas impulsionadas por esses recursos movimentem US$ 78 bilhões até 2026.

As percepções variam por região. Na Ásia, 60% dos respondentes demonstram pessimismo, associando a IA à eliminação de postos de trabalho, em um ambiente de forte competição e rápida evolução tecnológica. Nos países do Golfo (GCC), 55% compartilham apreensões, possivelmente ligadas ao impacto sobre serviços de luxo. Em contraste, a Europa apresenta 58% de agentes que descartam o temor de substituição, e a América Latina tem 55% de profissionais otimistas, vendo a IA como um reforço a experiências centradas em sustentabilidade e cultura.

A América do Norte se destaca como exceção. Apenas 20% dos agentes nos EUA e no Canadá acreditam que a IA possa substituí-los, sinalizando uma adoção mais pragmática. Cerca de 45% demonstram interesse por ferramentas de personalização, com uso de algoritmos capazes de analisar dados do viajante e sugerir, por exemplo, roteiros de enoturismo ajustados a preferências e imprevistos operacionais. Em paralelo, há sinais de maturidade do consumidor: 40% dos viajantes já utilizam IA generativa para recomendações, com destaque para apoio a orçamento e tradução.

A experiência profissional também pesa na percepção de risco. Agentes com menos de três anos de carreira mostram maior apreensão: 51% temem que a IA assuma tarefas como a montagem inicial de roteiros. Entre os veteranos, com mais de 15 anos de atuação, o índice cai para 40%, apoiado em relações consolidadas, leitura contextual e gestão de crises que a automação não reproduz plenamente.

A pressão tecnológica é crescente. Relatórios do setor apontam forte expansão de recursos impulsionados por IA, como o aumento expressivo de consultas e resumos orientados por algoritmos nos fluxos de busca de viagens. Enquanto sistemas “agênticos” ganham espaço no planejamento complexo, a supervisão humana permanece decisiva para assegurar confiança e nuances contextuais.

Apesar das preocupações, a visão global é majoritariamente favorável: 56% avaliam a IA de forma positiva, sobretudo pelo ganho de eficiência, que libera tempo para relacionamento e curadoria. Em um mercado que cresce com o bleisure (viagens que combinam negócios e lazer), e a valorização do turismo responsável, a IA tende a atuar como co-piloto — prevendo tendências, otimizando receitas e personalizando experiências em escala.

Em síntese, a questão central deixa de ser se a IA substituirá os agentes e passa a ser como se adaptar à sua incorporação. Para quem ajusta processos e integra a tecnologia ao trabalho consultivo, as perspectivas são de ganhos de produtividade e de valor agregado no atendimento.

Fabiano Vidal

Técnico em Turismo, Turismólogo, Jornalista, Especialista em Marketing e Publicidade, autor do livro "Do Tambaú ao Garden - A História Moderna do Turismo da Paraíba", agraciado com Voto de Aplausos e a Medalha de Mérito Turístico 2008, ambos concedidos pela Assembléia Legislativa da Paraíba.

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