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Lima, Peru. O apito final no Estádio Monumental não encerrou apenas uma partida tensa contra o Palmeiras; ele selou um destino que começou a ser traçado muito longe dali, em escritórios frios e planilhas complexas. Ao levantar a taça e se tornar o primeiro tetracampeão brasileiro da Libertadores, o Flamengo não venceu apenas no campo. Venceu na gestão, no planejamento e na ousadia. A conquista do tetracampeonato é a ponta do iceberg de uma revolução silenciosa que transformou um gigante endividado em uma potência do futebol mundial.
Quem vê a festa de hoje talvez esqueça o cenário de terra arrasada de janeiro de 2013. Quando Eduardo Bandeira de Mello assumiu, encontrou um clube que vivia mergulhado em dívidas e respirava por aparelhos, com a eterna angústia de brigar para não cair. Ali, tomou-se a decisão impopular de fechar a torneira. Foi preciso cortar na carne, ouvir críticas e sacrificar o presente para garantir que houvesse futuro. A promessa de sanear as contas parecia utopia para um torcedor acostumado ao improviso, mas o tempo mostrou que a austeridade fiscal é o maior reforço que um time pode ter.
Austeridade esta que permitiu ao Flamengo a fartura de hoje, provando que é possível ter dinheiro em caixa e taça no armário. Os números de 2024, com uma receita bruta recorde superior a 1,3 bilhão de reais, assustam pela grandeza. E mesmo quando a dívida subiu para trazer craques, a diretoria mostrou que sabia o que estava fazendo, reduzindo o passivo operacional em quase 200 milhões de reais num piscar de olhos, já no segundo trimestre de 2025. Isso não é sorte, é competência. É a prova de que o amadorismo não tem mais vez na Gávea.
O resultado dessa organização é que o Flamengo deixou de ser apenas um vendedor de promessas para se tornar um destino de estrelas. A Europa, que sempre nos olhou de cima, agora nos encara de frente. Como bem disse o executivo José Boto, a janela de transferências mudou de figura: hoje, jogadores de elite do velho continente querem jogar no Rio de Janeiro, pois sabem que encontrarão uma estrutura de ponta, salário em dia e a chance única de sentir o calor da maior torcida do mundo. O Ninho do Urubu virou referência, e o Manto Sagrado Rubro-Negro, um objeto de desejo internacional.
No fim das contas, o Flamengo é o retrato do Brasil que deu certo. Enquanto tantas instituições patinam na crise, o clube construiu um modelo sólido, blindado e vencedor. O tetra em Lima é a coroação de um projeto que tirou o clube da lama e o colocou no topo da América. O Flamengo mostrou que dá para ser gigante sem perder a alma, ser uma potência financeira sem esquecer a arquibancada e ser internacional mantendo suas raízes. O mundo agora descobriu o que a Nação já sabia: o Flamengo está, de fato, em outro patamar. E pelo jeito que a casa está arrumada, essa era de ouro está longe de acabar.
Por Fabiano Vidal - Turismólogo, Jornalista de Turismo, Especialista em Marketing e Publicidade, Doutor em Ciência da Informação e ex-presidente da ABRAJET-PB (2020-2022)
